domingo, 16 de dezembro de 2012

Um pensamento em dois capítulos e uma capitulação ao papai Noel.

                                                                Capítulo I
Se põe o sol depois de mais um dia.
 Para nós que moramos na borda do planalto para além do ponto mais alto da serra, ao por do sol segue-se uma brisa oceânica, tal brisa é filtrada pelas franjas da mata atlântica que retém para si a  umidade e o sal  passando apenas com a brisa a inspiração vinda do oriente e penso então no que pensar, quero pensar em paz, mas não sobre a paz. Há paz o suficiente para que eu tome posse completa e irrestrita de meus pensamentos?
Sempre há paz no pensar, só o pensar nos afasta das opressivas paixões que nascem do corpo e de sua exterioridade. É no território de nossa interioridade e não em outra parte, que Reputamos e glorificamos com honras a realidade que herdamos ao nascer.
 Em sua palestra para o curso promovido na extinta (pelo governo Collor) Fundação nacional das artes em 1986 "Os Sentidos da Paixão" nos instrui Renato Janine Ribeiro ," em nossos dias quando se fala de paixões pensa-se em amor e enamoramento; nos Séculos XVII e XVIII porém a paixão por excelência era outra", e cita Hobbes: " No prazer e desprazer que sentem os homens, devido aos sinais de honra ou desonra que lhes são tributados consiste a natureza das paixões", isso dito em 1640.
Há paixões fora de moda, a glória, assim como a honra e a reputação, com certeza pertencem a essa lista.
Escolho então pensar sobre essa Afecção extemporânea, a glória. Mas não vou pensá-la como a glória dos Luízes de França, mas como a glória geneticamente mutada, a glória neoplásica e metastática que não é mais glória, então é o que?
O sol à moda do bom cowboy, segue sempre para o oeste faz sempre o caminho do ocidente, a direção dos grandes descobridores, Cristovão e Pedro vieram até a América seguindo o por de sol, sua cor dourada, uma espécie de Aton do bulionista.
Para o oeste vão os ambiciosos, os  que buscam oportunidades, é  a direção que em minha imaginação leva ao desconhecido ao que me parece sempre ser desafiador. O novo o moderno, aquilo que é tecnológico está na posição ocidental.
Já a direção oposta é o leste de onde vem a culta civilização, tudo o que é do mediterrâneo e além dele, veio até nosso continente pelo Atlântico de onde o sol surge toda manhã. Vieram os desbravadores conquistar essa gigantesca área de terra, buscavam o eterno brilho amarelo do ouro, com eles vieram outro tipo de conquistadores, aqueles que queriam conquistar consciências, aqueles que sabiam que a verdadeira glória da terra são os homens, os religiosos também vieram, com seu vestir diferente dos demais e com ambições que transcendiam o visível.  Há algo mais significativo da civilização culta para nós ocidentais que o Cristianismo? Me corrijam se assim não for.
Pois é do oriente em relação a posição onde assiste meu lar que cotidianamente ouço sinos de uma igreja a avisar-me que o sol se oculta, tais sinos me trazem a nostálgica sensação de despedida , não só do sol mas de todos aqueles que partiram em direção ao desafio do desconhecido. Destes há os que foram em silêncio, como que sentindo vergonha de estarem indo, em uma despedida melancólica de tudo aquilo que foram capazes de construir daquilo que aprenderam com os ventos vindos do leste. Há outros que partiram com muita dor e sofrimento em uma divisão interna entre o ir e o ficar, pois sabiam estar indo para uma viajem sem retorno ou comunicação possíveis, glorifico muitos destes que foram definitivamente experimentar aquilo que tememos experimentar.  
Mas há os que foram para o oeste para alcançar riquezas, glória e honra, a cor dourada do poente talvez os tenha feito acreditar que lá o ouro brote da terra. Assim foi com os bandeirantes, que descobriram um fluxo d'água que ia pra o oeste, e foram em busca de seu eldorado. Singraram pelo rio as terras de São Paulo foram para o a rio Paraná e deste muito além, queriam riquezas, ouro pedras preciosas, guerrearam tomaram a terra dos índios, os escravizaram queriam mais do que riquezas queria honra reputação e glória.
 A glória é a exacerbação da honra e essa é o sinônimo de reputação e reputação vem do latim: REPUTATIO que é o mesmo que consideração "re-putare"  (re) novamente, de novo (putare) pensar supor calcular, e então, reputare: Refletir sobre, estimar, calcular.
A glória é então uma alegria exagerada pela consideração que recebemos de fora de nós mesmos, daqueles que nos rodeiam e que nos observam, daqueles que nos pensam como parte de sua própria realidade.
Com que voracidade dirigiram-se para o oeste os ambiciosos, a ambição e o desejo foram fartamente distribuída aos homens pelo criador, as unhas e os dentes todos tem em igual numero e o apetite este parece que veio do submundo.
Quanta dor pode suportar um ambicioso malogrado, aquele que se dirigiu para as terras abundantes e ricas, e nada conseguiu a não ser a falência econômica e a implosão afetiva?
Tal destino pode ser intolerável ao ponto da total desagregação social, o ambicioso frustrado não pode mais tolerar seu ambiente, seus pares não o reputam com a medida desejada, sua honra é ferida e sua glória inalcançável e o único poder que lhe resta é o poder sobre si mesmo, e passa a governar-se, já que não tem o que quer dos demais, uma reputação, cria suas próprias regras, suas próprias leis, funda então uma autarquia.  É a escapatória única para a mitigação de tamanho desconforto social. Cabe a quem busca a glória e alcança a fome e a humilhação, ocultar-se de maneira definitiva no perambular pelo mundo.  Os valores materiais o abandonaram, resta-lhe então os valores do conhecimento experimentado em sua solidão, suas experiências passam a ter mais valor que qualquer conhecimento formal que tenha tido contacto  a sua  moralidade é aquela que lhe permite segurança, quer  ser ético, moral e virtuoso, mas dentro da sua ética da sua moral e do que entende por virtude. Quer um retorno à natureza, mas sem a interferência do poder e da engenhosidade humanas, pois assim supõem proteger a sua  natureza interna. A inocência infantil também está em seu foco, pois vê a criança como o depositário de uma natureza humana não corrompida, e por isso ética e moral e com seus deslizes perdoados e tolerados, pois a tolerância é uma virtude do peregrino.
O arquétipo do autárquico é o peregrino. E o peregrino é  simbolizado aqui como  um andrajoso, que representa todas as suas perdas materiais, com uma cuia para receber alimento dos caridosos, suas carências físicas e afetivas estão por essa cuia representados um cão de boa índole que representa sua ligação com a natureza e o instinto, e finalmente  uma criança que o liga com a inocência,  o seu modo de falar é moralista e presunsosamente sábio.
 Na prática o peregrino moderno não peregrina salvo sua constante mudança de atividade e residência, não é proprietário e não quer ser, não tem carreira e não quer ter, vê a si mesmo como uma espécie de messias que tem por missão mostrar que seu estilo de vida é a verdade que supõe ser um talento inato. Está sempre disposto a receber benesse do poder público como o bolsa isso e bolsa aquilo gosta muito de medicamentos, se auto medica com muita facilidade e indica medicamentos aos outros pois acredita ter um conhecimento apriorístico em medicina, chás, banho com infusão de ervas, banhos com sal grosso e outras inconsistências fazem parte de seu arsenal terapêutico, acredita que a piedade é o mesmo que bondade e aliviar temporariamente o sofrimento alheio é o mesmo que curar a doença. Outro tema muito freqüente é o abandono de um caminho profissional, muitas das vezes promissor, para buscar uma atividade como funcionário público, um desejo de integrar-se na massa amorfa e anônima do estado pois parece-me que estaria se apossando de parte da infindável e gloriosa riqueza que lhe teria sido tomada, um retorno ao absoluto depois de uma desistência diante da individuação e da personalização.
  Ninguém cria filhos  como um peregrino, a criança que acompanha o peregrino no símbolo arquetípico, não é um novo indivíduo em formação , mas a extensão da própria infância do peregrino, assim o autárquico que chamo aqui de peregrino, tem uma relação de posse dependente com a criança. Posse dependente, por exemplo é a relação que temos com nossos órgãos vitais, o coração é um órgão vital, nós o possuímos e somos dependentes de sua boa função,  o peregrino tem a criança como um órgão vital como uma parte de si sem a qual a própria existência corre risco , a criança é o passado reconstruído é a apresentação do que foi o peregrino quando criança  e o peregrino pode esquecer assim o que foi sua infância de fato, uma infância da qual não quer se aproximar verdadeiramente. O autárquico incomoda-se quando alguém interfere na sua ligação com os seus filhos, em quem quer corrigir tudo quanto supõem, o peregrino, ter sido equivocado na sua infância. Ninguém tem o direito de dizer como devo educar meus filhos dirá o autárquico enquanto tortura sua criança expondo-a riscos desconsiderando sua vulnerabilidade. É muito comum a freqüente a substituição de escolas pois qual professor ou escola estará a altura do "eu infantil exteriorizado na condição de filho"? Só a escola forte esta a altura do meu filho. Mas há necessidade de força para se educar alguém? Seriam realmente as escolas ruins? Reputo que a escola como toda instituição apenas atende os anseios da clientela que a é razão de sua existência e quem conforma seus limites.
Somos todos evolucionistas, mesmo aqueles que se declaram criacionistas, são em seu comportamento diário evolucionistas, e não é difícil defender essa tese, já que estamos sempre a espera de  novas competências para os produtos industrializados que nos atendem em nossa eterna busca pela felicidade, a um conceito industrial que está  completamente incorporado em nosso viver " nada é o suficientemente bom que não possa ser melhorado". O que é essa frase se não evolucionismo? Pois sim, não é que os autocráticos também evoluem, alguns deles não permanecem na condição de peregrinos, dão um salto a diante, tornam-se cínicos.
No meu entender um cínico é um autocrata instintivo e errante que se libera de regras sociais e econômicas como aquelas da etiqueta, alias os peregrinos odeiam etiquetas, entre outras afrontas ao respeito, que é o escopo da etiqueta, adoram palavras de pouca respeitabilidade e se justificam dizendo que são autênticos... mas o nosso assunto agora são os cínicos.
A pedra de toque que transforma um autocrata em um cínico é o afrouxamento do comportamento moral para reforçar o seu discurso demagógico e moralista. O Cínico faz qualquer coisa para dar credibilidade às suas palavras, hordas e hordas de peregrinos anseiam por discursos virtuosos e moralistas proferidos pelos cínicos, não teria nascido assim o nacional socialismo? Não foi o nazismo o apogeu do cinismo? O autocrata é em si mesmo um ditador, não alcança a interioridade de ninguém, consegue apenas a identificação projetiva que tem com seus cínicos ditadores, todos unidos em busca da glória perdida.  O autocrata idealiza um salvador e o cínico se apresenta como tal, uma ditadura com amplo apoio da população nada mais é do que a coletivização da autarquia.
O futebol é uma quase religião, mais que uma manifestação social ou política. Nas torcidas dos grandes times de futebol... A massa flamenguista ou corinthiana invadiu o estádio do adversário em um país estrangeiro ou a grande nação vascaína ou santista comemora a impiedosa vitória sobre um rebaixado palmeiras. O termo massa se refere a alguma coisa não pensante e sem forma sem características, não há vontade própria quando estamos imersos no espírito de rebanho, a idéia de nação é um conceito que particulariza um determinado grupo de pessoas a partir de um universo maior. Há vitoriosos ou perdedores nesse mundo fechado, de baixíssima transparência do futebol? O que há de fato é um grande número de pessoas ávidas por crenças lançadas para o futuro, um diálogo entre a competência atlética e o desafio de superar a competência atlética de outra bandeira, de outra nação, de outra fé. Mas a competência e o desafio pertencem ao atleta e a regra é explícita só são admitidos  vinte e dois jogadores em campo. O que faz  alguém em posição individual se misturar com a massa, diluir-se nela, renunciando á própria autonomia? Está buscando um cínico que de maneira imoral, pois trata-se de uma falsidade diga-lhe que tudo aquilo é muito importante, que é respeito próprio ser respeitado pela bandeira adversária e é importante sentir-se vitorioso em conjunto com seus pares e que congregam a mesma fé. Os autárquicos evoluídos que já não querem mais um emprego público, querem o controle do público ( a ambigüidade de sentido é proposital) que aferem lucro e poder manipulando com discursos falsos de encantamento por uma bandeira que afinal representa uma pseudo nação, uma pseudo religião e que em verdade não passa de um conjunto de autárquicos que  não se consideraram merecedores de qualquer glória, parasitam a glória de um punhado de atletas que de modo geral pouco tem a oferecer além de uma atividade que prescinde de grande valor em seu íntimo.   
A religião é a primeira manifestação cultural que o homem experimentou, talvez a única, não importa qual seja a religião, um ser humano não existe, na categoria humano,  sem uma religião. Entendo a religião como a manifestação da ligação da subjetividade com a objetividade, a realidade interna buscando contacto com a realidade externa.  Sem religião não há como comprovar para nós mesmos que existimos, a existência é um ato de fé, cremos que existimos pois algo nos apóia para alcançarmos essa condição. Nossa primeira religião é o corpo de nossa mãe, somos nela em corpo, em objetividade e com ela em subjetividade  e essa experiência é posteriormente entendida como uma sensação somática difusa que denominamos amor( esta será a única vez que usarei essa palavra no texto que transcorre dada a inexatidão dela no contexto do tema.) Cabe a mãe e não a outra entidade o convite à criança em descobrir outras possibilidades religiosas, o novo ser quer compreender-se no mundo, quer ligar-se a ele, e cabe a mãe mostrar que o universo social  é a outridade que lhe diz respeito.
Eis pois o único antídoto para o colapso subjetivo diante do fracasso; A religião.   Assim o materialismo se de alguma maneira possibilitar a ligação subjetivo-objetiva é religião a ciência da mesma forma, não só as religiões tradicionais, mas também elas podem ser classificadas como "o caminho", todo caminho que leve a união da subjetividade ao corpo e às suas possibilidades sensoriais de atenção, percepção e compreensão é religião, nós apenas escolhemos a nossa maneira de termos fé mas todos necessariamente a temos.
A religião do cínico é o cinismo, sua fé está nas muitas maneiras de manipular a frágil fé do autárquico que por ter perdido a honra e não é reputado, não entra nas considerações dos demais, e assim torna-se um moralista que não introjetou a moralidade. Por sua vez o cínico que é a "evolução" do autárquico tem sua fé fortemente apoiada na imoralidade.  A manipulação é a maneira cínica de interação subjetivo-objetiva.
O cínico cria fantasmas persecutórios como por exemplo o final dos tempos as obsessões, os demônios e todo tipo de perigos dos quais não tem como se defender o autárquico, para que o peregrino autárquico fique sob o controle de suas receitinhas "poderosas" contra tais males.
O casamento do cinismo com as religiões tradicionais dispensa qualquer outra explicação, os fatos estão nos jornais.
Enquanto o peregrino tem uma relação de co-dependência com a criança e no intuito de manter essa relação desrespeita a fragilidade  de um vulnerável, o cínico da um passo à frente, e em seu delírio imoral cria a hedionda eugenia. O nazismo que talvez seja a mãe de todos os cínicos modernos tinha um programa, uma lista sistematizada de objetivos, e o programa do partido nazista é claramente eugênico do seu quarto ao oitavo item, (essa repugnante declaração de intenções é facilmente encontrada na internet.) E qual a finalidade da eugenia, a falsa percepção que os filhos dos autocráticos são especiais e super protegidos , na realidade se trata de uma grande reserva de humanos submissos e prontos a se sacrificarem em qualquer tipo de tarefa pois tem a ilusão de que um símbolo, uma bandeira ou um sobrenome  é por si só a marca de uma identificação de superioridade congênita, e aquele que foi incluído na lista dos escolhidos sente-se superqualificado e fará de tudo para não decepcionar o grupo. A conseqüência real disso na Alemanha hitlerista foi a de que após terem sido usados para criar a máquina de guerra mais poderosa de seu tempo com um alto custo social e econômico, o povo e principalmente os mais jovens foram levados para a morte nas frentes de batalha, a eugenia não passa de reserva de mercado para carne humana.
Outra forma de eugenia mais atualizada é a tal produção independente, a mulher quer ser mãe partenogenética, larga o ursinho de estimação em pelúcia  e realiza uma maternidade autocrática. Afirma para todos que gerou e deu à luz um filho, mas nada fez além de produzir um comcepto, o conjunto de uma criança e seus anexos, penso agora que até menos que isso, pariu uma commodity. Dessas traquitanas de baixo preço que eventualmente esquecemos no carro sob o sol ou que são colocadas sobre o tanque da motocicleta a caminho de algum lugar, já que o tempo urge, estamos sempre atrasados. E cria o seu filho-commodity dentro de um ambiente uni- familiar, sua família de origem, como se houvesse apenas "o bom material genético" e com aquele maravilhoso sobrenome de que tanto se orgulha, em resumo; Eugenia.
A grande arma dos cínicos é a palavra e o convencimento por sofismas e ilusões, o cínico tem um lema, "jamais sujar as mãos" ainda que alguns cínicos nunca tenham declarado a si mesmos esse lema eles o tem como o primeiro de seus mandamentos. Mas para não sujar as mãos, os cínicos precisam utilizar os serviços de um grupo que tem crescido muito, os seres das sombras, os perversos. E quem é o perverso? Se o autárquico é moralista e o cínico é imoral o perverso é amoral, para ele tanto faz qualquer código de conduta, simplesmente não  o cumprirá, e esse descumprimento já é satisfatório, quando quer alguma coisa , o perverso vai lá e pega, se quer destruir alguma coisa vai lá e destrói, por ser completamente desprovido de prudência, está sempre escondido, vive nas sombras e só sai delas para prestar serviços aos cínicos.
O perverso, não presta serviços aos cínicos  simplesmente por que tem um compromisso, ou algum tipo de contrato ou mesmo porque vão ter algum lucro com isso, os seres das sombras não se incomodam com isso, atendem aos cínicos pois esses os protegem, ocultando-os do mundo e de suas luzes. Para a medicina os perversos já estão na categoria de patológicos, mas não estamos tratando de medicina, estamos apenas pensando em paz, e como já disse no começo... mas não sobre a paz.
Ao leste de onde estou agora, ouço diariamente os sinos anunciarem o por do sol que está acontecendo silenciosamente do lado oposto ao da igreja, no entanto silêncio para meditar no Ângelus é um luxo, com freqüência um cão faz  um dueto dissonante  com os eclesiásticos sons. Quanto os cães já latiram para os sinos? Os cínicos assim como os cães se irritam com o que é oriental, culto, sublime, com aquilo que é conseqüente e organizado, com aquilo que nos propõe o pensar e a busca pelo que é real e verdadeiro. Os cães após seu protesto, recolhem-se a seus abrigos, aos seus paninhos imundos, por  serem irracionais não podem  enlouquecer, ficam ali guardando com feroz disciplina o completo desconhecimento  do que é o  mundo em que vive. Já os cínicos vão buscar os habitantes das sombras, aqueles que não mais suportam a luz do amanhecer, ou qualquer outra forma de iluminação, ainda que seja a falsa luz dos cínicos e nas sombras sempre estão e delas já não conseguem mais sair, os cães estão em melhor condição, pois não enlouquecem enquanto os seres das sombras não conseguem mais sair da loucura.
Os cínicos conhecem a luz e a distorcem para seus propósitos imorais, e aguardam a penumbra e a noite para solicitar serviços para aqueles que a evitam. Há ainda um ser intermediário que se apresenta ao por do sol, é também um autárquico, conhece os habitante das sombras e não se interessa muito em ter com eles, mas assim que se anuncia o por do sol se põem a beber, são os cínicos beberrões, que o mais rapidamente possível se embebedam para matarem toda alegria vivida durante a luz do dia, e anseiam por um novo dia sem qualquer memória do dia anterior e de amnésia em amnésia, afastam-se do gozo daquilo que mais os atormenta, a felicidade, a deles e por "solidariedade" a dos outros.
O anoitecer nos leva aos nossos lares que  deveriam ser mais aconchegantes do que tem sido.
Paro aqui meu pensamento.
Mas porque pensei o que pensei?
 Ao pensar sobre algo  pensa-se sobre o que não se tem, uma conclusão que não se tem , uma resposta que se deseja e que ainda não se atingiu, mas se há algo que tenho é a possibilidade do meu pensar e a segura paz que o pensar me proporciona, paz tenho-a em abundância.
Já me roubaram muito na vida e estão a me roubar inescrupulosamente instante após instante, a rapina é feita com unhas de harpia, afiadas e poderosas. E aí estão o poder vigoroso e implacável das unhas federais e estaduais que não são menos afiadas que aquelas do município, essas não tão poderosas mas indignam por serem mais facilmente visíveis. Roubam-me o tempo em infindáveis congestionamentos, em filas, e nos tele-  atendimentos cada vez mais automatizados e ineficazes, não há somente as unhas fortes e afiadas a me roubar mas suaves mãos de unhas cuidadas também o fazem, mãos que digitam veloz e decididamente meias verdades, que são o mesmo que completas falsidades a serem publicadas diariamente em todas as mídias, roubam-me a verdade. Roubam-me a paciência quando me ocultam respostas para decisões precipitadas e não devidamente explicadas, talvez por serem inexplicáveis.
Mas a paz não me roubam, pois ainda tenho o meu pensar...
                                                                Capítulo II
Quando eu era menino, uma série em animação foi lançada, chamava-se Jonny Quest, tratava-se das aventuras de um menino filho de um cientista e que tinha um amigo indiano  que fazia mágicas e que estava sempre de turbante. Em um dos episódios que revi recentemente, o garoto indiano que chama-se hadji mergulha em águas tranqüilas de uma região tropical, mas o estranho é que o menino mergulha de turbante, e eu pergunto, mas há alguém no mundo que mergulhe de turbante? Como é que eu aceitei esse absurdo quando criança? Já estavam a me convencer em aceitar o inaceitável, roubaram me o senso crítico, roubaram me a lógica, querem que eu comungue com a loucura e abandone-me, querem que eu não tenha a coragem de gritar: O REI ESTÁ NU! E COM O RABO CHEIO DE DÓLARES. Quero de volta a minha possibilidade da glória de ser honrado e ético e ser considerado como alguém com a reputação de ser honesto e generoso, não quero mais ter um autocrata, de ética subjetiva como paradigma de civilidade de moralidade e de ética, pois a ética subjetiva não é ética alguma, não quero mais ser conduzido por cínicos, que querem me convencer que suas ideologias são superiores às minhas próprias ideias. Tenho o desejo de ter a possibilidade de crer em meu semelhante como alguém também honrado e honesto. 
                                                                Capitulo ! 
Questiona-me então o leitor mas e o Papai Noel do título?
Por ser natal ficou com o saco cheio... de ouro do tesouro público, e com seu filho continuador de seu destino cínico  foi ao Japão torcer  pelo CORINTHIANS.
                                 

                                                                   Feliz Natal!

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