sexta-feira, 9 de maio de 2014

Mães

Aquela falta  voltou a despertar meus gemidos, faz quanto tempo que eu estou  gemendo sem ouvir-me? Sim tenho gemido de agonia, uma angústia profunda, inarticulada que estremece mas que eu silencio,  minha atenção está toda voltada  para o silêncio que é o que eu quero ouvir sobre mim. Meu choro ressoa  em ecos permanentes e abafados por viscosas lágrimas que não saem do lugar para que ninguém as testemunhe. Sim , estou enlouquecendo com os  reentrantes  ecos que retumbam pelos imensos espaços da densa atmosfera do meu  silêncio.
Lembro-me agora da óbvia advertência que circula pelas redes sociais, e que tem a subscrição apócrifa de Pablo Neruda; Fuja dos conselhos sensatos, morre lentamente quem não o faz. Pobre Neruda, jamais escreveria tal  banalidade, e no entanto há quem suponha que seja de alguma maneira possível consolar-me com tais tolices de periódico barato.O que sinto não se confunde com tédio de final de semana que é a dor mais forte que muitos privilegiados sentem. O que sinto é um gigantesco nada, o que deveria ser não é, foi mas jamais será novamente.  Mas nesse momento preciso de algo inexistente, para me resgatar da previsível invasão do meu silêncio.
 Quero  palavras apenas algumas palavras, com a voz que não ouvirei mais, nunca mais... MÃE! Impelida a conhecer uma  dor, que a memória ameniza e a faz terna, talvez a dor que a areia sente quando é pisada e marcada pelo caminhar dos delicados pés de uma pequena criança, a minha criança perdida. Sinto-me na borda do avesso do  parto que acaba por me fazer ressentir  o arrebatamento do descarne dos próprios ossos. Preciso de um ritual, preciso com urgência de um perfume diferente, talvez um sapato novo ou de um hambúrguer e um refrigerante. Mas quantas vezes já não fiz isso, quanta vezes já não mergulhei na insignificante futilidade para fugir da possibilidade de que o denso silêncio que me habita se condense em significados.
Saudades, só saudades e a minha pele sempre tão muda começou a gritar em tremores e frios suores, meu estomago dói, minha cabeça dói, tudo em mim é dor e eu não mais sei como  controlar a minha vulnerabilidade.    

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Calma não é o mesmo que tolerância, a verdadeira calma é absolutamente intolerante.

Tolerância é dizer  não para si mesmo, é renunciar à própria verdade.

Pensar é fazer perguntas e dar respostas, quem não sabe fazer boas perguntas, não tem como alcançar boas respostas.

Tenha fé na sua resposta, mas somente se a pergunta for  sua e só sua.

Respostas dos outros podem ser muito úteis e de importância inestimável, mas não chegam a merecer nossa fé.

A fé em uma resposta deriva da experiência que ela gera, e não das relações de não incoerência, e  de causa e efeito que produziram a resposta.

O segredo de tudo é: Quando se pensa, não há perguntas proibidas, e nem respostas escandalosas,escandaloso é mentir para si mesmo, escandaloso é o auto engano.

A quietude do bem pensar é a calma em si mesma. 

A calma é o resultado de saber pensar e não é o seu contrario.

Não pensa quem é calmo, é calmo quem sabe pensar.
Reflito, pondero, medito, e então acalmo.