terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O quem ausente














Nos livros texto e nas aulas teóricas, fui sendo apresentado às síndromes e doenças, já nas aulas práticas, os processos físico-químicos, fisiopatológicos e anatomopatológicos do adoecer, e assim  entre o quando o que e o como, uma grande horda de males a serem enfrentados e vencidos foram criando, um espaço delirante, uma espécie de "guerra nas estrelas". Uma rica fauna de perversos microorganismos, de moléculas alteradas e de proteínas maliciosas, entre outros tantos personagens, eram os inimigos, os soldados de um Darth Vader que respondia pelo nome geral; Doença, e isso acontecia em um onde, o corpo de alguém, um ninguém qualquer. Um grande arsenal de poderosos armamentos, venenos, irradiações atômicas, irradiações magnéticas, irradiações ultrasônicas , e através de incisões, invadir o alguém e buscar o inimigo onde quer que ele estivesse e destruí-lo, achei então novamente o como. E assim preparado e bem preparado fui até o hospital em busca de doenças para conhecê-las pessoalmente e então...
Sentei-me ao lado do leito de um alguém internado, vi alguns sinais superficiais e não vi nada além de um doente mas onde estava a doença então? Não a reconheci, mesmo possuindo o quando, onde, o como e o porque não notara que havia um quem. Até aquele momento ninguém tinha sequer citado que a afirmação: Alguém está doente, implica na pergunta, quem é o doente? Não apenas qual é o nome do doente. Já vimos todos, pessoa sem doença mas doença sem pessoa nunca vimos, vimos?  E como o mínimo que se espera da relação entre o médico e seu paciente é que apenas um seja o doente eu me perguntei; Essa falta de atenção que fez com que eu não tivesse percepção do quem, seria uma doença?  Curei-me ouvindo os pacientes dizendo quem eram, e o que eram além de sintomas, sem dúvida o melhor dos professores de medicina é o paciente.

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