Aquela falta voltou a
despertar meus gemidos, faz quanto tempo que eu estou gemendo sem ouvir-me? Sim tenho gemido de agonia,
uma angústia profunda, inarticulada que estremece mas que eu silencio, minha atenção está toda voltada para o silêncio que é o que eu quero ouvir
sobre mim. Meu choro ressoa em ecos
permanentes e abafados por viscosas lágrimas que não saem do lugar para que
ninguém as testemunhe. Sim , estou enlouquecendo com os reentrantes ecos que retumbam pelos imensos espaços da densa
atmosfera do meu silêncio.
Lembro-me agora da óbvia advertência que circula pelas redes
sociais, e que tem a subscrição apócrifa de Pablo Neruda; Fuja dos conselhos
sensatos, morre lentamente quem não o faz. Pobre Neruda, jamais escreveria
tal banalidade, e no entanto há quem
suponha que seja de alguma maneira possível consolar-me com tais tolices de periódico
barato.O que sinto não se confunde com tédio de final de semana que é a dor
mais forte que muitos privilegiados sentem. O que sinto é um gigantesco nada, o
que deveria ser não é, foi mas jamais será novamente. Mas nesse momento preciso de algo inexistente,
para me resgatar da previsível invasão do meu silêncio.
Quero palavras apenas algumas palavras, com a voz
que não ouvirei mais, nunca mais... MÃE! Impelida a conhecer uma dor, que a memória ameniza e a faz terna,
talvez a dor que a areia sente quando é pisada e marcada pelo caminhar dos
delicados pés de uma pequena criança, a minha criança perdida. Sinto-me na borda
do avesso do parto que acaba por me
fazer ressentir o arrebatamento do descarne
dos próprios ossos. Preciso de um ritual, preciso com urgência de um perfume
diferente, talvez um sapato novo ou de um hambúrguer e um refrigerante. Mas
quantas vezes já não fiz isso, quanta vezes já não mergulhei na insignificante
futilidade para fugir da possibilidade de que o denso silêncio que me habita se
condense em significados.
Saudades, só saudades e a minha pele sempre tão muda começou
a gritar em tremores e frios suores, meu estomago dói, minha cabeça dói, tudo
em mim é dor e eu não mais sei como controlar
a minha vulnerabilidade.