segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Curtas









Ao assumir uma decisão, não se fixe naquilo que está perdendo, entusiasme-se com o que está ganhando!


Uma das coisas que você vai amar nesta vida é sorrir.
Uma das coisas que você vai amar na alegria é o sorriso.


A ideia não está para o cérebro, assim como a insulina está para o pâncreas.








O rebelde é um obediente traído.

Ninguém constrói algo diferente de si mesmo.


Obediência é o estado de submissão do ego aos complexos.
Desobediência é a superação de complexos “desadaptativos”.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

FUTURO?


     Uma taça de cristal vazia, que se ausentara de seu lugar entre as  outras como ela,  vazias e sem uso, deixou um vazio quando foi retirada de seu estático lugar, há muito tempo aquelas taças estavam ali, vazias e sem uso, como eram pouco úteis aquelas taças  pois estavam vazias e sem uso. Eram limpas periodicamente, e para que? Para que nem mesmo a poeira se servisse delas, e lhes dessem utilidade. Talvez existissem só para isso, para serem limpas. Eram pacificamente belas, possivelmente belas, a beleza se hospeda de alguma maneira em nosso íntimo, a beleza é assim como um turista, vem causa agitação e furor, nos encanta com seu encantamento e se vai...E abre-se uma vaga para um novo turista que chega, somos um hotel para belezas, não podemos reter um turista, não devemos reter a beleza ao custo de nos tornarmos meros mantenedores de museu. A taça retirada de seu lugar, foi colocada sobre uma mesa de centro ao lado de uma garrafa com água e ali ficou novamente a espera de alguma utilidade.
A poeira é ubíqua assim como a luz, lembro-me quando criança como me encantava ver a presença de partículas suspensas no ar,  só reveladas quando uma nesga de luz solar entrava por uma pequena fresta, um portal mágico, que lhe dava passagem entre a janela e a cortina, iluminando uma área modesta de minha cama, enquanto o resto do dormitório era tomado por uma luz difusa vinda da translucidez da cortina, e nada revelava de suspenso no ar. Como experimentador  e qual criança saudável não é um experimentador, eu introduzia meu dedo indicador dentro daquela faixa de luz, meu dedo em sua área superior se iluminava intensamente,enquanto na face palmar ficava menos iluminado e uma faixa de sombra surgia e gerava uma sombra projetada na área iluminada sobre a cama, assim eu fazia um eclipse das partículas  suspensas no ar. Luz direta, com poeira, sem luz direta, sem poeira. A luz marca a existência  da poeira e a poeira marca presença da luz. Quando eu fazia movimentos rápidos com a mão sobre a faixa de luz a poeira formava vórtices e esses então denunciavam a presença do ar.
Presumo que no comércio a poeira doméstica não tenha um grande valor, sei que é recolhida em domicílios e utilizada por laboratórios especializados na produção de antígenos que são marcadores imunológicos com finalidades diagnósticas e como mitigadores da sensibilidade individual, os alérgicos em tratamento sabem bem do que estou falando.  
E a luz não tem mercado ou um valor monetário, o que é capaz de gerar luz tem valor, a eletricidade é produto, mas a luz como coisa em si nada vale, compramos o diamante, pagamos caro por ele pois brilha; Quebra e reflete a luz branca em todas as suas cores, mas a luz é de graça. Pagamos pelo aparelho de TV, pagamos pela eletricidade e pela programação que vem pelo cabo, via de regra em impulsos luminosos na base binária, tudo isso transforma-se em luz na tela da televisão, essa luz então se perde, é impossível vende-la em segunda mão, essa luz não tem qualquer valor, perdeu-se pela eternidade, durou apenas um agora.
Mas afinal, poderemos perguntar , o que é o agora? não sei, percebo que não sei dizer o que de fato é o agora, talvez porque o agora apesar de ser tomado como medida de tempo, está completamente fora do tempo, um pintor figurativo poderia levar muitas semanas reproduzindo uma cena, cada pincelada aconteceu em um determinado agora, então a cena retratada não foi um agora, no entanto um primeiro olhar dado por um observador constitui um agora, aquela cena que levou um longo tempo para ser pintada, é vista em um agora. 
O passado é uma equação cujo resultado final é uma incógnita que é aceita como resposta por consenso. Essa equação tem um nome, história. A palavra história deriva de histor que vem do latim e significa juiz, o passado é um juízo que se constrói, uma abordagem uma aproximação do que teria sido o pretérito. O passado é então uma sentença que permite recurso.
 Toda ciência e todo o saber quer o futuro,  conhece e experimenta só o passado, e apenas tolera o presente por ser inapreensível e incognoscível, o agora é uma virtualidade no eixo do tempo, o momento presente é uma fatia estática na curva do tempo, o agora é um marcador de tempo que marca a parada do tempo ou  a ausência do tempo. O presente como realidade alcançável se constitui apenas de espaço.
E o futuro porque não o vejo? Ele está lá, a espreita, ou não, talvez esteja lá me aguardando de braços abertos e eu é que o temo e o espreito pois não confio, não tenho fé no seu bem querer.
Um relógio impecavelmente limpo, registrava que em um minuto, não mais que sessenta segundos, um novo ano se iniciaria. Ocupei-me desse minuto olhando fixamente para a seta do tempo que apontava decidida para o novo , e nesse minuto, por todo esse minuto sustentei a suspensão da minha respiração, talvez querendo que esse minuto jamais acabasse, me enchi de ar como querendo estar cheio de algo, do sopro divino talvez  e viver eternamente,mas a eternidade não é viva, as estatuas são eternas,em bronze, pedra ou gesso, mesmo as de madeira, ou de marfim  que já foram vivos, a eternidade é para aquilo que é imóvel e insensível, os mortos. A paz e plenitude são para os que já foram, dos mortos, dos que tiveram a coragem de renunciar ao sopro divino.  Prendi minha respiração por que  queria sim que esse período sem respirar fosse o suficiente para que eu após a morte, renascesse para um novo  ano, para uma vida renovada mas, se realmente eu quisesse essa transformação na passagem do ano teria que ter prendido a respiração muito antes do ultimo minuto, no entanto, se quer fiquei ofegante quando voltei a respirar.
 Desejei muito, muito, muito mesmo ver o ano que viria, seus contornos, seus picos e vales. Quis  ver o futuro  mas  vi apenas vazio.
Queria estar surdo e cego para não ouvir o ruidoso festejar nos outros lugares próximos a mim, Casas, apartamentos, clubes, salões, hotéis, escritórios, hospitais , imobiliárias, igrejas, praias, sabe-se lá mais  onde pudesse servir de alcova para o encontro furtivo da  vã alegria com o auto engano.  Todas aquelas pessoas fingiam tão bem a felicidade que queriam com ambição desmedida, que me convenceram a esquecer que eu as conhecia  e que com certeza tudo aquilo era mentira, desprovido de valor, vazio.
Olhei novamente a taça vazia, ao seu lado uma garrafa com água, tomo a taça delicadamente com minha mão direita e a coloco contra a luz, admiro a luz sendo quebrada em cores pelos ângulos dos desenhos da lapidação do cristal, aquela taça vazia enche de luzes e cores minha mente,tento em vão identificar todas as cores de espectro visível, as cores são fugidias, revezam-se muito rapidamente,em um caos de impressões e incertezas penso então no vazio cintilante do universo, apesar do ruído no meu entorno, concebo o silêncio do espaço,reconheço o silêncio como uma propriedade do gigantesco hiato inter-sideral, penso nos orientais, que buscam o nada como solução para a angustia de viver, mas mesmo eles não alcançam  tolerar o nada, eles fazem aquele som gutural em baixa frequência como companhia em suas meditações e o chamam de OM. Nesse momento tenho um surto de deboche e com ironia decido verter água na taça, dizendo: Vamos colocar um pouco de um nada vibracional no vazio, vou preencher o vazio de nada.
A garrafa inclina-se lentamente, e de modo firme e consciente é sustentada por minha mão direita, sinto o peso e o desequilíbrio do momento , observo a linha d'água como um nível de pedreiro, minha vontade  é preencher o vazio da taça até sua borda. O ruído no meu entorno é muito elevado, as pessoas estão ocupadas preenchendo o vazio da existência com estrondos e luzes coloridas. Uma potente bomba se sobrepõem a todas as demais num vibrante estouro, por um momento perco o foco de minha atenção e há um transbordamento. Me irrito por um momento, mas não desisto...
Esgoto a água enxugo a taças, que novamente está vazia e volto ao princípio. desta vez consigo, a taça está completamente cheia, perfeitamente cheia em  plenitude hídrica, no entanto sei que se eu fizer qualquer movimento...
Prendo novamente a respiração para evitar vibrações, estou ali parado olhando para aquela taça completamente cheia de água, sem respirar olho para a água dentro da taça e nada vejo, sua transparecia me confunde , as bombas quase pararam de estourar e eu paralisados por aquela inútil situação, me julgo um tolo por levar tão longe o meu desejo de plenitude, solto o ar de meus pulmões e  para terminar com tudo aquilo bebo em um gole uma porção de água, e com isso abaixo o nível de água na taça, ao preencher minha boca com água, tenho a percepção de ter recebido mais do mesmo, daquilo que sempre tive, e que em nada me acrescentou não fiquei feliz por ter tomado água e me transporto para há muitos anos, sentado em uma carteira escolar, quando a professora do curso elementar regia seu coral de desanimados e desafinados alunos repetindo varias vezes: Incolor, inodora e insípida.  
Mas o ar também tem as mesmas propriedades físicas? incolor, inodoro e insípido.
Aquela taça esteve o tempo todo cheia de ar, jamais estivera vazia, agora tinha duas fases uma aérea e uma aquosa, e ambas incolores inodoras e insípidas , no entanto, agora sim posso perceber que há algo na taça, pois a tensão superficial entre ambos, ar e água revela a presença de algo para meus sentidos sempre famintos por estímulos a  água e o ar são desprovidos de qualidades intrínsecas que revele sua presença, os percebemos pelo espaço que ocupam ou pela diferenças de temperatura com nosso meio interno  e apesar de vitais, e presentes são vazios de marcadores.
Meus sentidos precisavam ser estimulados, alguma presença deveria apresentar-se em minha consciência, aquela intangibilidade estava apenas intensificando a minha sensação de solidão.
Acendo um charuto, sempre tenho um charuto para esses momentos, a solidão se afasta com a fumaça de um bom charuto assim como os insetos voadores. vou até o bar e pego no climatizador, alguns chamam de adega, mas adega é outra coisa; Uma champagne, ponho-a na geladeira, preciso de algo que de fato me faça alcançar alguma percepção de prazer. Quero-a bem gelada.
Meu celular está desligado, penso em dar alguns telefonemas de congratulações pelo ano que se inicia , mas desisto, vou me manter fora do mundo.
Enquanto gela a bebida vou até a prateleira de meu escritório e peguei um livro , um livro qualquer, contei com o acaso,dizem que nada é ao acaso, veremos; Para minha surpresa tratava-se de uma Bíblia, frustrei-me, esperava algo menos nobre, algo com mais aparência de auto ajuda, mas se me propus a enfrentar o acaso vamos lá.
Reagi a vontade cômoda de abrir o livro em uma página qualquer contando com a sincronicidade, assim então não abri a Bíblia desta forma em busca de algum ensinamento redentor,  mas comecei do começo; Gênesis 1:1 NO PRINCÍPIO CRIOU DEUS OS CÉUS E A TERRA. Leio a mesma frase por cinco ou seis vezes, algo nela me instiga, nunca antes tinha parado para pensar nessa frase.
No princípio?A palavra princípio no versículo significa o que? início, começo; ou significaria essência? E se no principio significar apenas e no começo?
Sempre há algo antes de qualquer começo; Há necessariamente uma decisão, então teríamos implícito que: {E Deus decidiu Criar e...} No princípio criou Deus...
No entanto,as decisões são sempre precedidas de dúvidas, e as dúvidas derivam de desejos e o desejo é o vazio que nos move. Mas tudo isso é incompatível com Deus, pois não há dúvida ou vazio possíveis em Deus.
Deus não tem desejos ou qualquer carência que solicite uma decisão reparadora. Deus não se angustia. 
Então poderíamos ter, se substituíssemos NO PRINCÍPIO por "sobre a essência" ; criou Deus os Céus e a terra. Mas qual essência? Penso na existência então imanente de Deus. No princípio Deus imana mas não transcende ainda, só transcenderá quando o tempo passar a ter presença ,  Ora, então Deus está no eterno agora.
Que maneira heterodoxa de começar um ano? Gênesis 1:1.
Como é vasta a grandeza de iniciar, o grande e o pequeno unidos, o visível e o invisível.

De repente sou tirado desse meu pensar por alguém que acordou mais tarde , ou não, alguém que antecipou a nascer do sol, o surgir do primeiro dia do novo ano, alguém que no silêncio do bombardeio resolve colher de seu estoque de imprevistos o pai de todos os morteiros, que pareceu ter sido detonado em meu colo. Apesar do susto vindo de tão eloquente alarme, dou uma gargalhada... Que barulhão? Deve ter sido de quando, no princípio Deus criou o som. Continuo a rir e quanto mais eu riu mais quero rir e desse rir surgem lagrimas em meus olhos e as lagrimas de abundantes alcançam meus lábios e deles a minha língua que as  recolhe  e as reconhecem como salgadas.
Essa percepção faz com que eu consiga me controlar e parar o riso, o sabor destas lágrimas me remeteram a um paradoxo, pois um susto me leva ao riso e o riso às lágrimas que tradicionalmente lembram tristeza.
Vou até a geladeira verificar se a champagne esta gelando e noto que vai demorar ainda, perco a paciência e mesmo não sendo correto a coloco no congelador, já tive dissabores anteriores com essa solução, mas quero beber uma champagne gelada ainda nesta madrugada.
Vou até a prateleira onde estão os meus CDs em busca de música, e no entanto encontro memórias, eu costumo evitar essa aproximação com capas de CDs pois sempre uma lembrança me colhe e me impacta. Essa é uma vantagem do aleatório que as novas tecnologias nos oferecem, um pendrive milhares de musicas e nenhuma decisão a ser tomada, tudo é automático, viver está se tornando cada vez mais a ausência do risco.
Entre tantas opções encontro uma gravação de Vinícius ,Toquinho e Betânia, em uma casa de shows de nome "LA FUZA" em Buenos Aires  nos dias 25 e 26 de janeiro de 1971.
Vou ouvindo as músicas em sua sequência enquanto olho pela janela, ainda pensando sobre a alegria risonha de um susto e as lágrimas que surgem de uma gargalhada e a tristeza que podemos experimentar disso. Começa a quinta faixa: O samba da benção.
Após uma breve explicação sobre o samba que será cantado, feita em espanhol com um sotaque tão intenso que duvido que algum argentino tenha entendido alguma coisa, ouve-se a voz do grande poeta Vinícius de Moraes cantando :"É melhor ser alegre do que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe , é assim como a luz no coração..."  E completa a idéia;          " Mas para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza senão não se faz um samba não..."
Apaguei o charuto. Sai da janela sentei-me e desliguei-me da música como se o vazio do silêncio absoluto reinasse e meditei no sentido de orientei o meu espírito, de pronto sem excitação, prescrevi um tratamento, uma cura para mim mesmo.
Uma taça vazia não está vazia, esta cheia de ar, que é incolor, inodoro , e insípido, se completamos com água temos algo ainda com as mesmas propriedades,apenas um pouco mais denso, mas não há diferença quanto ao estímulo que nos causa, são essenciais, são o princípio mesmo de nossa criação, não há vida possível sem o essencial, mas são tão fundamentais e básicos que passam a não ser perceptíveis aos nossos sentidos para a constituição de nossas vidas.
A neutralidade artesanal da existência, que inicia-se com um Deus que é causa de si mesmo e que só é concebível  na textura da própria origem, em uma eternidade que respira, pulsa em luzes e sombras, cíclicas e eternas, está sempre no momento presente, no agora em absoluta plenitude. Não há vazio possível no universo, a apenas o perceptível e o imperceptível, há aquilo que valorizamos pois nos da algum tipo de recompensa e chamamos de bom e há aquilo que chamamos de inútil mau perverso, e que sentimos como  vazio.
Quando olhamos para o ano novo, o futuro além do ano novo, e o futuro além de nossa própria existência nada vemos mas está lá, não vemos pois não tem o formato que nos agrada, está ali com as mesmas propriedades físicas da água ou do ar.
A cegueira irremediável para onde nossos sentidos nos arrastam, não é necessária, mas é cômoda, não há marcadores conhecidos e confiáveis para o futuro, miríades de seres vivos racionais ou não estão se digladiando no  inferno do apetite, nós seres humanos com consciência do que nos apetece, outras criaturas nem isso, todos querendo o que vêem, para atender a um vazio que de fato não existe.
O poeta em sua sabedoria diz que o vazio nos entristece e a tristeza é desagradável e feia e portanto é necessário que a usemos como matéria prima para a construção do belo, fazemos o belo e com o belo que podemos ver ou ouvir ou de alguma maneira perceber a tenção superficial entre a tristeza e a esperança. Mas o que esperar tal esperança?  
 Que o belo será eterno, e se eterno, de  plenitude infindável. O próprio Vinicius de Moraes nos diz em seu "Soneto de Fidelidade" que o amor não seja imortal [...] mas que seja infinito enquanto dure.
Há os que  sustentam suas tristezas e vazios e conservam-se sempre em um estado de  futuro lutando uma luta inglória quixotesca contra supostos desequilíbrios e pensam que assim estão construindo um advir sustentável e consciente, no entanto parece que isso é lutar contra o invisível, o futuro já está lá e se imporá de qualquer maneira e o que de fato estão a fazer é não se integrarem ao futuro pois o futuro não é individual, é coletivo todos estamos nele e integrados a ele, só não o vemos, não há marcadores para o futuro.  
Olhando fixamente para a taça agora com a champagne e penso  sobre sua cor, observo o chamado menisco, a quantidade de gás, seu aroma instigante, floral remetendo a perfumes que não fizeram parte de sua composição mas ali estão, quanta coisa está ali, quanto passado concentrado em um pequeno volume? AAH! A inutilidade da ambição, sentimento que sempre nos trai com a esperança de uma plenitude que não se realiza e com o calote da felicidade que nunca é entregue. Mas que tolo sou eu,a ambição é um tema para acaloradas debates de inverno ao entorno de uma mesa perto de uma lareira, regado por um Nero D'avola da região de Siracusa, o helenismo impregnado no solo de Siracusa com certeza esta presente em seu vinho e inspirará qualquer especulação, e ao fundo as suítes de Bach para violoncelo pois a Europa central é indispensável em um tema como esse. Mas nesse momento estou no implacável verão tropical e só uma francesa gelada, poderá me fazer companhia.
  Taça após taça vou me anestesiando, entremeando os meus ressentimentos de homem posto compulsoriamente na solidão e a "Filha de Pèrignon" que suavemente como mulher sedutora e libidinosa  já começa a me fazer ceder ...  Ao tempo em que seu espírito circula pelo meu sangue ,e  as festividades prosseguem mundo afora na abertura de uma nova caixa de pandora.

O novo ano ri-se de mim de minha incompetência para vê-lo. Ri-se o futuro de minha sequência  inexorável de imprudências previsíveis e negligenciadas, lutando contra aquilo que é em si mesmo e me quer assim como sou.  Vou pouco a pouco me transformando com dor e sofrimento desnecessários, vou amalgamando o agora em história. 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Um pensamento em dois capítulos e uma capitulação ao papai Noel.

                                                                Capítulo I
Se põe o sol depois de mais um dia.
 Para nós que moramos na borda do planalto para além do ponto mais alto da serra, ao por do sol segue-se uma brisa oceânica, tal brisa é filtrada pelas franjas da mata atlântica que retém para si a  umidade e o sal  passando apenas com a brisa a inspiração vinda do oriente e penso então no que pensar, quero pensar em paz, mas não sobre a paz. Há paz o suficiente para que eu tome posse completa e irrestrita de meus pensamentos?
Sempre há paz no pensar, só o pensar nos afasta das opressivas paixões que nascem do corpo e de sua exterioridade. É no território de nossa interioridade e não em outra parte, que Reputamos e glorificamos com honras a realidade que herdamos ao nascer.
 Em sua palestra para o curso promovido na extinta (pelo governo Collor) Fundação nacional das artes em 1986 "Os Sentidos da Paixão" nos instrui Renato Janine Ribeiro ," em nossos dias quando se fala de paixões pensa-se em amor e enamoramento; nos Séculos XVII e XVIII porém a paixão por excelência era outra", e cita Hobbes: " No prazer e desprazer que sentem os homens, devido aos sinais de honra ou desonra que lhes são tributados consiste a natureza das paixões", isso dito em 1640.
Há paixões fora de moda, a glória, assim como a honra e a reputação, com certeza pertencem a essa lista.
Escolho então pensar sobre essa Afecção extemporânea, a glória. Mas não vou pensá-la como a glória dos Luízes de França, mas como a glória geneticamente mutada, a glória neoplásica e metastática que não é mais glória, então é o que?
O sol à moda do bom cowboy, segue sempre para o oeste faz sempre o caminho do ocidente, a direção dos grandes descobridores, Cristovão e Pedro vieram até a América seguindo o por de sol, sua cor dourada, uma espécie de Aton do bulionista.
Para o oeste vão os ambiciosos, os  que buscam oportunidades, é  a direção que em minha imaginação leva ao desconhecido ao que me parece sempre ser desafiador. O novo o moderno, aquilo que é tecnológico está na posição ocidental.
Já a direção oposta é o leste de onde vem a culta civilização, tudo o que é do mediterrâneo e além dele, veio até nosso continente pelo Atlântico de onde o sol surge toda manhã. Vieram os desbravadores conquistar essa gigantesca área de terra, buscavam o eterno brilho amarelo do ouro, com eles vieram outro tipo de conquistadores, aqueles que queriam conquistar consciências, aqueles que sabiam que a verdadeira glória da terra são os homens, os religiosos também vieram, com seu vestir diferente dos demais e com ambições que transcendiam o visível.  Há algo mais significativo da civilização culta para nós ocidentais que o Cristianismo? Me corrijam se assim não for.
Pois é do oriente em relação a posição onde assiste meu lar que cotidianamente ouço sinos de uma igreja a avisar-me que o sol se oculta, tais sinos me trazem a nostálgica sensação de despedida , não só do sol mas de todos aqueles que partiram em direção ao desafio do desconhecido. Destes há os que foram em silêncio, como que sentindo vergonha de estarem indo, em uma despedida melancólica de tudo aquilo que foram capazes de construir daquilo que aprenderam com os ventos vindos do leste. Há outros que partiram com muita dor e sofrimento em uma divisão interna entre o ir e o ficar, pois sabiam estar indo para uma viajem sem retorno ou comunicação possíveis, glorifico muitos destes que foram definitivamente experimentar aquilo que tememos experimentar.  
Mas há os que foram para o oeste para alcançar riquezas, glória e honra, a cor dourada do poente talvez os tenha feito acreditar que lá o ouro brote da terra. Assim foi com os bandeirantes, que descobriram um fluxo d'água que ia pra o oeste, e foram em busca de seu eldorado. Singraram pelo rio as terras de São Paulo foram para o a rio Paraná e deste muito além, queriam riquezas, ouro pedras preciosas, guerrearam tomaram a terra dos índios, os escravizaram queriam mais do que riquezas queria honra reputação e glória.
 A glória é a exacerbação da honra e essa é o sinônimo de reputação e reputação vem do latim: REPUTATIO que é o mesmo que consideração "re-putare"  (re) novamente, de novo (putare) pensar supor calcular, e então, reputare: Refletir sobre, estimar, calcular.
A glória é então uma alegria exagerada pela consideração que recebemos de fora de nós mesmos, daqueles que nos rodeiam e que nos observam, daqueles que nos pensam como parte de sua própria realidade.
Com que voracidade dirigiram-se para o oeste os ambiciosos, a ambição e o desejo foram fartamente distribuída aos homens pelo criador, as unhas e os dentes todos tem em igual numero e o apetite este parece que veio do submundo.
Quanta dor pode suportar um ambicioso malogrado, aquele que se dirigiu para as terras abundantes e ricas, e nada conseguiu a não ser a falência econômica e a implosão afetiva?
Tal destino pode ser intolerável ao ponto da total desagregação social, o ambicioso frustrado não pode mais tolerar seu ambiente, seus pares não o reputam com a medida desejada, sua honra é ferida e sua glória inalcançável e o único poder que lhe resta é o poder sobre si mesmo, e passa a governar-se, já que não tem o que quer dos demais, uma reputação, cria suas próprias regras, suas próprias leis, funda então uma autarquia.  É a escapatória única para a mitigação de tamanho desconforto social. Cabe a quem busca a glória e alcança a fome e a humilhação, ocultar-se de maneira definitiva no perambular pelo mundo.  Os valores materiais o abandonaram, resta-lhe então os valores do conhecimento experimentado em sua solidão, suas experiências passam a ter mais valor que qualquer conhecimento formal que tenha tido contacto  a sua  moralidade é aquela que lhe permite segurança, quer  ser ético, moral e virtuoso, mas dentro da sua ética da sua moral e do que entende por virtude. Quer um retorno à natureza, mas sem a interferência do poder e da engenhosidade humanas, pois assim supõem proteger a sua  natureza interna. A inocência infantil também está em seu foco, pois vê a criança como o depositário de uma natureza humana não corrompida, e por isso ética e moral e com seus deslizes perdoados e tolerados, pois a tolerância é uma virtude do peregrino.
O arquétipo do autárquico é o peregrino. E o peregrino é  simbolizado aqui como  um andrajoso, que representa todas as suas perdas materiais, com uma cuia para receber alimento dos caridosos, suas carências físicas e afetivas estão por essa cuia representados um cão de boa índole que representa sua ligação com a natureza e o instinto, e finalmente  uma criança que o liga com a inocência,  o seu modo de falar é moralista e presunsosamente sábio.
 Na prática o peregrino moderno não peregrina salvo sua constante mudança de atividade e residência, não é proprietário e não quer ser, não tem carreira e não quer ter, vê a si mesmo como uma espécie de messias que tem por missão mostrar que seu estilo de vida é a verdade que supõe ser um talento inato. Está sempre disposto a receber benesse do poder público como o bolsa isso e bolsa aquilo gosta muito de medicamentos, se auto medica com muita facilidade e indica medicamentos aos outros pois acredita ter um conhecimento apriorístico em medicina, chás, banho com infusão de ervas, banhos com sal grosso e outras inconsistências fazem parte de seu arsenal terapêutico, acredita que a piedade é o mesmo que bondade e aliviar temporariamente o sofrimento alheio é o mesmo que curar a doença. Outro tema muito freqüente é o abandono de um caminho profissional, muitas das vezes promissor, para buscar uma atividade como funcionário público, um desejo de integrar-se na massa amorfa e anônima do estado pois parece-me que estaria se apossando de parte da infindável e gloriosa riqueza que lhe teria sido tomada, um retorno ao absoluto depois de uma desistência diante da individuação e da personalização.
  Ninguém cria filhos  como um peregrino, a criança que acompanha o peregrino no símbolo arquetípico, não é um novo indivíduo em formação , mas a extensão da própria infância do peregrino, assim o autárquico que chamo aqui de peregrino, tem uma relação de posse dependente com a criança. Posse dependente, por exemplo é a relação que temos com nossos órgãos vitais, o coração é um órgão vital, nós o possuímos e somos dependentes de sua boa função,  o peregrino tem a criança como um órgão vital como uma parte de si sem a qual a própria existência corre risco , a criança é o passado reconstruído é a apresentação do que foi o peregrino quando criança  e o peregrino pode esquecer assim o que foi sua infância de fato, uma infância da qual não quer se aproximar verdadeiramente. O autárquico incomoda-se quando alguém interfere na sua ligação com os seus filhos, em quem quer corrigir tudo quanto supõem, o peregrino, ter sido equivocado na sua infância. Ninguém tem o direito de dizer como devo educar meus filhos dirá o autárquico enquanto tortura sua criança expondo-a riscos desconsiderando sua vulnerabilidade. É muito comum a freqüente a substituição de escolas pois qual professor ou escola estará a altura do "eu infantil exteriorizado na condição de filho"? Só a escola forte esta a altura do meu filho. Mas há necessidade de força para se educar alguém? Seriam realmente as escolas ruins? Reputo que a escola como toda instituição apenas atende os anseios da clientela que a é razão de sua existência e quem conforma seus limites.
Somos todos evolucionistas, mesmo aqueles que se declaram criacionistas, são em seu comportamento diário evolucionistas, e não é difícil defender essa tese, já que estamos sempre a espera de  novas competências para os produtos industrializados que nos atendem em nossa eterna busca pela felicidade, a um conceito industrial que está  completamente incorporado em nosso viver " nada é o suficientemente bom que não possa ser melhorado". O que é essa frase se não evolucionismo? Pois sim, não é que os autocráticos também evoluem, alguns deles não permanecem na condição de peregrinos, dão um salto a diante, tornam-se cínicos.
No meu entender um cínico é um autocrata instintivo e errante que se libera de regras sociais e econômicas como aquelas da etiqueta, alias os peregrinos odeiam etiquetas, entre outras afrontas ao respeito, que é o escopo da etiqueta, adoram palavras de pouca respeitabilidade e se justificam dizendo que são autênticos... mas o nosso assunto agora são os cínicos.
A pedra de toque que transforma um autocrata em um cínico é o afrouxamento do comportamento moral para reforçar o seu discurso demagógico e moralista. O Cínico faz qualquer coisa para dar credibilidade às suas palavras, hordas e hordas de peregrinos anseiam por discursos virtuosos e moralistas proferidos pelos cínicos, não teria nascido assim o nacional socialismo? Não foi o nazismo o apogeu do cinismo? O autocrata é em si mesmo um ditador, não alcança a interioridade de ninguém, consegue apenas a identificação projetiva que tem com seus cínicos ditadores, todos unidos em busca da glória perdida.  O autocrata idealiza um salvador e o cínico se apresenta como tal, uma ditadura com amplo apoio da população nada mais é do que a coletivização da autarquia.
O futebol é uma quase religião, mais que uma manifestação social ou política. Nas torcidas dos grandes times de futebol... A massa flamenguista ou corinthiana invadiu o estádio do adversário em um país estrangeiro ou a grande nação vascaína ou santista comemora a impiedosa vitória sobre um rebaixado palmeiras. O termo massa se refere a alguma coisa não pensante e sem forma sem características, não há vontade própria quando estamos imersos no espírito de rebanho, a idéia de nação é um conceito que particulariza um determinado grupo de pessoas a partir de um universo maior. Há vitoriosos ou perdedores nesse mundo fechado, de baixíssima transparência do futebol? O que há de fato é um grande número de pessoas ávidas por crenças lançadas para o futuro, um diálogo entre a competência atlética e o desafio de superar a competência atlética de outra bandeira, de outra nação, de outra fé. Mas a competência e o desafio pertencem ao atleta e a regra é explícita só são admitidos  vinte e dois jogadores em campo. O que faz  alguém em posição individual se misturar com a massa, diluir-se nela, renunciando á própria autonomia? Está buscando um cínico que de maneira imoral, pois trata-se de uma falsidade diga-lhe que tudo aquilo é muito importante, que é respeito próprio ser respeitado pela bandeira adversária e é importante sentir-se vitorioso em conjunto com seus pares e que congregam a mesma fé. Os autárquicos evoluídos que já não querem mais um emprego público, querem o controle do público ( a ambigüidade de sentido é proposital) que aferem lucro e poder manipulando com discursos falsos de encantamento por uma bandeira que afinal representa uma pseudo nação, uma pseudo religião e que em verdade não passa de um conjunto de autárquicos que  não se consideraram merecedores de qualquer glória, parasitam a glória de um punhado de atletas que de modo geral pouco tem a oferecer além de uma atividade que prescinde de grande valor em seu íntimo.   
A religião é a primeira manifestação cultural que o homem experimentou, talvez a única, não importa qual seja a religião, um ser humano não existe, na categoria humano,  sem uma religião. Entendo a religião como a manifestação da ligação da subjetividade com a objetividade, a realidade interna buscando contacto com a realidade externa.  Sem religião não há como comprovar para nós mesmos que existimos, a existência é um ato de fé, cremos que existimos pois algo nos apóia para alcançarmos essa condição. Nossa primeira religião é o corpo de nossa mãe, somos nela em corpo, em objetividade e com ela em subjetividade  e essa experiência é posteriormente entendida como uma sensação somática difusa que denominamos amor( esta será a única vez que usarei essa palavra no texto que transcorre dada a inexatidão dela no contexto do tema.) Cabe a mãe e não a outra entidade o convite à criança em descobrir outras possibilidades religiosas, o novo ser quer compreender-se no mundo, quer ligar-se a ele, e cabe a mãe mostrar que o universo social  é a outridade que lhe diz respeito.
Eis pois o único antídoto para o colapso subjetivo diante do fracasso; A religião.   Assim o materialismo se de alguma maneira possibilitar a ligação subjetivo-objetiva é religião a ciência da mesma forma, não só as religiões tradicionais, mas também elas podem ser classificadas como "o caminho", todo caminho que leve a união da subjetividade ao corpo e às suas possibilidades sensoriais de atenção, percepção e compreensão é religião, nós apenas escolhemos a nossa maneira de termos fé mas todos necessariamente a temos.
A religião do cínico é o cinismo, sua fé está nas muitas maneiras de manipular a frágil fé do autárquico que por ter perdido a honra e não é reputado, não entra nas considerações dos demais, e assim torna-se um moralista que não introjetou a moralidade. Por sua vez o cínico que é a "evolução" do autárquico tem sua fé fortemente apoiada na imoralidade.  A manipulação é a maneira cínica de interação subjetivo-objetiva.
O cínico cria fantasmas persecutórios como por exemplo o final dos tempos as obsessões, os demônios e todo tipo de perigos dos quais não tem como se defender o autárquico, para que o peregrino autárquico fique sob o controle de suas receitinhas "poderosas" contra tais males.
O casamento do cinismo com as religiões tradicionais dispensa qualquer outra explicação, os fatos estão nos jornais.
Enquanto o peregrino tem uma relação de co-dependência com a criança e no intuito de manter essa relação desrespeita a fragilidade  de um vulnerável, o cínico da um passo à frente, e em seu delírio imoral cria a hedionda eugenia. O nazismo que talvez seja a mãe de todos os cínicos modernos tinha um programa, uma lista sistematizada de objetivos, e o programa do partido nazista é claramente eugênico do seu quarto ao oitavo item, (essa repugnante declaração de intenções é facilmente encontrada na internet.) E qual a finalidade da eugenia, a falsa percepção que os filhos dos autocráticos são especiais e super protegidos , na realidade se trata de uma grande reserva de humanos submissos e prontos a se sacrificarem em qualquer tipo de tarefa pois tem a ilusão de que um símbolo, uma bandeira ou um sobrenome  é por si só a marca de uma identificação de superioridade congênita, e aquele que foi incluído na lista dos escolhidos sente-se superqualificado e fará de tudo para não decepcionar o grupo. A conseqüência real disso na Alemanha hitlerista foi a de que após terem sido usados para criar a máquina de guerra mais poderosa de seu tempo com um alto custo social e econômico, o povo e principalmente os mais jovens foram levados para a morte nas frentes de batalha, a eugenia não passa de reserva de mercado para carne humana.
Outra forma de eugenia mais atualizada é a tal produção independente, a mulher quer ser mãe partenogenética, larga o ursinho de estimação em pelúcia  e realiza uma maternidade autocrática. Afirma para todos que gerou e deu à luz um filho, mas nada fez além de produzir um comcepto, o conjunto de uma criança e seus anexos, penso agora que até menos que isso, pariu uma commodity. Dessas traquitanas de baixo preço que eventualmente esquecemos no carro sob o sol ou que são colocadas sobre o tanque da motocicleta a caminho de algum lugar, já que o tempo urge, estamos sempre atrasados. E cria o seu filho-commodity dentro de um ambiente uni- familiar, sua família de origem, como se houvesse apenas "o bom material genético" e com aquele maravilhoso sobrenome de que tanto se orgulha, em resumo; Eugenia.
A grande arma dos cínicos é a palavra e o convencimento por sofismas e ilusões, o cínico tem um lema, "jamais sujar as mãos" ainda que alguns cínicos nunca tenham declarado a si mesmos esse lema eles o tem como o primeiro de seus mandamentos. Mas para não sujar as mãos, os cínicos precisam utilizar os serviços de um grupo que tem crescido muito, os seres das sombras, os perversos. E quem é o perverso? Se o autárquico é moralista e o cínico é imoral o perverso é amoral, para ele tanto faz qualquer código de conduta, simplesmente não  o cumprirá, e esse descumprimento já é satisfatório, quando quer alguma coisa , o perverso vai lá e pega, se quer destruir alguma coisa vai lá e destrói, por ser completamente desprovido de prudência, está sempre escondido, vive nas sombras e só sai delas para prestar serviços aos cínicos.
O perverso, não presta serviços aos cínicos  simplesmente por que tem um compromisso, ou algum tipo de contrato ou mesmo porque vão ter algum lucro com isso, os seres das sombras não se incomodam com isso, atendem aos cínicos pois esses os protegem, ocultando-os do mundo e de suas luzes. Para a medicina os perversos já estão na categoria de patológicos, mas não estamos tratando de medicina, estamos apenas pensando em paz, e como já disse no começo... mas não sobre a paz.
Ao leste de onde estou agora, ouço diariamente os sinos anunciarem o por do sol que está acontecendo silenciosamente do lado oposto ao da igreja, no entanto silêncio para meditar no Ângelus é um luxo, com freqüência um cão faz  um dueto dissonante  com os eclesiásticos sons. Quanto os cães já latiram para os sinos? Os cínicos assim como os cães se irritam com o que é oriental, culto, sublime, com aquilo que é conseqüente e organizado, com aquilo que nos propõe o pensar e a busca pelo que é real e verdadeiro. Os cães após seu protesto, recolhem-se a seus abrigos, aos seus paninhos imundos, por  serem irracionais não podem  enlouquecer, ficam ali guardando com feroz disciplina o completo desconhecimento  do que é o  mundo em que vive. Já os cínicos vão buscar os habitantes das sombras, aqueles que não mais suportam a luz do amanhecer, ou qualquer outra forma de iluminação, ainda que seja a falsa luz dos cínicos e nas sombras sempre estão e delas já não conseguem mais sair, os cães estão em melhor condição, pois não enlouquecem enquanto os seres das sombras não conseguem mais sair da loucura.
Os cínicos conhecem a luz e a distorcem para seus propósitos imorais, e aguardam a penumbra e a noite para solicitar serviços para aqueles que a evitam. Há ainda um ser intermediário que se apresenta ao por do sol, é também um autárquico, conhece os habitante das sombras e não se interessa muito em ter com eles, mas assim que se anuncia o por do sol se põem a beber, são os cínicos beberrões, que o mais rapidamente possível se embebedam para matarem toda alegria vivida durante a luz do dia, e anseiam por um novo dia sem qualquer memória do dia anterior e de amnésia em amnésia, afastam-se do gozo daquilo que mais os atormenta, a felicidade, a deles e por "solidariedade" a dos outros.
O anoitecer nos leva aos nossos lares que  deveriam ser mais aconchegantes do que tem sido.
Paro aqui meu pensamento.
Mas porque pensei o que pensei?
 Ao pensar sobre algo  pensa-se sobre o que não se tem, uma conclusão que não se tem , uma resposta que se deseja e que ainda não se atingiu, mas se há algo que tenho é a possibilidade do meu pensar e a segura paz que o pensar me proporciona, paz tenho-a em abundância.
Já me roubaram muito na vida e estão a me roubar inescrupulosamente instante após instante, a rapina é feita com unhas de harpia, afiadas e poderosas. E aí estão o poder vigoroso e implacável das unhas federais e estaduais que não são menos afiadas que aquelas do município, essas não tão poderosas mas indignam por serem mais facilmente visíveis. Roubam-me o tempo em infindáveis congestionamentos, em filas, e nos tele-  atendimentos cada vez mais automatizados e ineficazes, não há somente as unhas fortes e afiadas a me roubar mas suaves mãos de unhas cuidadas também o fazem, mãos que digitam veloz e decididamente meias verdades, que são o mesmo que completas falsidades a serem publicadas diariamente em todas as mídias, roubam-me a verdade. Roubam-me a paciência quando me ocultam respostas para decisões precipitadas e não devidamente explicadas, talvez por serem inexplicáveis.
Mas a paz não me roubam, pois ainda tenho o meu pensar...
                                                                Capítulo II
Quando eu era menino, uma série em animação foi lançada, chamava-se Jonny Quest, tratava-se das aventuras de um menino filho de um cientista e que tinha um amigo indiano  que fazia mágicas e que estava sempre de turbante. Em um dos episódios que revi recentemente, o garoto indiano que chama-se hadji mergulha em águas tranqüilas de uma região tropical, mas o estranho é que o menino mergulha de turbante, e eu pergunto, mas há alguém no mundo que mergulhe de turbante? Como é que eu aceitei esse absurdo quando criança? Já estavam a me convencer em aceitar o inaceitável, roubaram me o senso crítico, roubaram me a lógica, querem que eu comungue com a loucura e abandone-me, querem que eu não tenha a coragem de gritar: O REI ESTÁ NU! E COM O RABO CHEIO DE DÓLARES. Quero de volta a minha possibilidade da glória de ser honrado e ético e ser considerado como alguém com a reputação de ser honesto e generoso, não quero mais ter um autocrata, de ética subjetiva como paradigma de civilidade de moralidade e de ética, pois a ética subjetiva não é ética alguma, não quero mais ser conduzido por cínicos, que querem me convencer que suas ideologias são superiores às minhas próprias ideias. Tenho o desejo de ter a possibilidade de crer em meu semelhante como alguém também honrado e honesto. 
                                                                Capitulo ! 
Questiona-me então o leitor mas e o Papai Noel do título?
Por ser natal ficou com o saco cheio... de ouro do tesouro público, e com seu filho continuador de seu destino cínico  foi ao Japão torcer  pelo CORINTHIANS.
                                 

                                                                   Feliz Natal!